terça-feira, 3 de outubro de 2006

SAWABONA - Sobre estar sozinho



Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milénio. As relações afectivas também estão passando por profundas transformações e a revolucionar o conceito de amor.

O que se procura hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.

A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos.


Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características, para se amalgamar ao projeto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei...

Se sou manso, ele deve ser agressivo, e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência, e pouco romântica, por sinal. A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos trocando o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.

Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão perdendo o pavor de ficar sozinhas, e aprendendo a conviver melhor consigo mesmas. Elas estão começando a perceber que se sentem fração, mas são inteiras.

O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fração. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.

O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou.
Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.

A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa à aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afectiva.

A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afectivas são óptimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem.

Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.

Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto.

Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal.

Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro. Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.


O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo...
de Ernesto Cortazar

Fiquem bem.

(A Mónada)


PS- Caso tenha ficado curioso em saber o significado de SAWABONA, é um cumprimento usado no sul da África e quer dizer "EU RESPEITO-TE, EU VALORIZO-TE, TU ÉS IMPORTANTE PARA MIM". Em resposta as pessoas dizem SHIKOBA, que é "ENTÃO, EU EXISTO PARA TI"

5 comentários:

Anónimo disse...

É um facto que, mes o que a mulher não promova o homem a "salvador", ele autopromove-se sem ajuda.

Nenhum dos meus dois ex-maridos foi príncipe, mas cada um deles, individalmente, se arvorou em meu salvador. Só nunca entendi de quê!

Há também quem tenha o grande mérito de não ser salvador de ninguém.

rosário

(A Mónada) e MARLIZ disse...

Interessante este teu ponto de vista... Nós somos seres individuais e não queremos ser salvos de alguma coisa ou de alguém... Temos uma aspiração comum a união ou a reunião com o TODO.

Mas nós já temos tudo para irmos fazendo essa ligação e quando chegar a hora o caminho já é conhecido - não há medo. Este caminho é de cada um e só o ser, no contexto da sua individualidade, o saberá reconhecer.

É verdadeiramente essa a beleza da vida e por isso ela é feita de escolhas. No fundo não há boas ou más escolhas... todas elas fazem parte desse caminho e todas elas devem ser assumidas tal como as suas consequências.

Muitos confundem-se no objectivo de vida... Dizem que procuram a felicidade e tentam encontrá-la com um outro ser... Não é bem assim qdo temos a oportunidade de ter um parceiro de jornada o que fica mais fácil (talvez) é a aprendizagem e o saber conhecer esse caminho.

Pode-se então perguntar em que fica essa nova forma de amor deste novo milénio?

Na minha reflexão eu diria que se situa na partilha que dois seres conseguem fazer neste processo de aprendizagem. Se este alinhamento de partilha e trilha comum for completo (corpo, mente e alma) então esses dois seres têm uma relação de parceria efectiva e completa.

A magia do amor conjugal faz o resto. A sensação de extase e de plenitude invade-te a vida e tudo parece estar finalmente pacificado.

Mas cuida que todas essas sensações têm origem em ti e não no outro. O Amor tem de ser sentido em ti e ao transbordar então vai-se criando a tal outra energia comum que ambos passam a sentir.

Tu és a fonte de todo o Amor que sentirás. No teu interior reside a sua origem - o tal amor incondicional. Ir em sua busca faz parte da caminhada.

A felicidade é ir sentindo esse mesmo amor em cada momento PRESENTE da nossa vida. Logo a felicidade não é o objectivo em si. Ela existe em ti em cada momento vivo no AGORA.

O amor conjugal é o expoente máximo que um ser não desperto pode ambicionar. Mas a REUNIÃO com o TODO, em que o amor conjugal faz parte desse caminho é seguramente o objectivo. Este é o objectivo da nossa exitência de co-criação. É este o objectivo de um ser consciente e ilumidado.

O amor conjugal numa relação de parceria como explica ou autor do post, só acelera a nossa chegada ao destino. Promove essa Reunião e ao trocar-se as diversas manifestações de amor com são: o carinho, o afecto, a partilha e a sexualidade... entre outras... é muito bom porque na fisicalidade vamos sentindo a fluir a verdadeira essência da nossa manifestação Divina. O AMOR.

Usando uma metáfora poderá muito bem significar a diferença entre circular numa estrada estreita e numa auto-estrada.

Na perda sentimos o afastamento, a ausência desta manifestações de amor e a solidão. Se estivermos em contactos com o nosso interior a solidão não existe e o medo de ficar só muito menos.

Sempre que te sentires só cuida de ti, da tua auto-estima, entra em contacto contigo... e depois olha à tua volta e vais ver que não estás nunca só.

Por tudo isto procuram-se salvadores de quê? de quem?... E como tu dizes o mérito é descobrir que não só não precisamos de "salvadores" como de também de ser "salvos" e muito menos fazer de “salvadores” e fazer depender a nossa felicidade disso.

Quando ambos percebem que a relacção de parceria é uma relação de aprendizagem conjunta, alinhada pelas totalidade dos nossos corpos, então a sensação de dependência não existe, o apego não existe, os condicionalismos impostos não existem, as crenças (ou pre-conceitos)desaparecem. A vida flui no disfrute do momento presente e a sensação de conforto e plenitude passam a ser a nossa "auto-estrada" no caminho da vida.

Fica bem.


PS:- Embora esta seja uma resposta ao teu comentário acho que merece ser promovido a post. Estás de acordo em que o publique como tal citando o teu comentário original?

É para mim uma evidência que é muito mais fácil escrever isto tudo do que levar à prática estas relações de parceria... e há várias razões para que isto acontece. A esperança reside em tomar consciência disto e tentar levar a vida assim... Seja com um parceiro ou não...

Anónimo disse...

Fico muito contente que promovas a resposta a post, pelo MUITO prazer que tive a ler. Sim, podes citar o comentário.

rosario

Anónimo disse...

E, do que li, havia uma frase:

A felicidade é ir sentindo esse mesmo amor em cada momento PRESENTE da nossa vida. Logo a felicidade não é o objectivo em si. Ela existe em ti em cada momento vivo no AGORA.

Acho que era esta ideia que eu andava há muito à procura... e que fica para reflexão.
rosario

Olga Correia disse...

Muito bom o texto. Concordo a 100%.
:)